DÚVIDA: não sei se celebro ou lamento o fato de Miriam Leitão escrever o óbvio
Eu ainda me recordo de um dos tantos péssimos momentos recentes proporcionados pelo jornalismo político da Rede Globo ao país: Miriam Leitão lendo, ponto a ponto, de seu ponto, algo que muito provavelmente seu editor soprava aos seus ouvidos na mediação de uma entrevista com o então candidato Jair Bolsonaro à GloboNews.
A jornalista rebatia o irrebatível: o fato de que o modelo de democracia que o jornalismo da Rede Globo apoiou por décadas não se distinguia da noção de democracia do atual presidente. Não é à toa que o então candidato à época tenha se dado tão bem recitando editorial escrito pelo patriarca Roberto Marinho em todas as vezes em que pisou em algum estúdio pelas bandas do Jardim Botânico. Sinergia: ambos juntos na defesa de que um regime militar ditatorial que perseguiu, censurou, torturou e matou em nome de um bem maior: o espantalho conveniente do comunismo. Espantalho que reviveu.
Tenho uma outra recordação. E aqui faço questão de salientar aspectos dessa memória. Miriam Leitão, num passado não muito distante, se posicionou ferrenhamente contra o regime ditatorial que o patrono da empresa que lhe emprega defendeu até, pasmem, os anos 1980. É de notório saber para quem, no mínimo, ainda tem estômago ou, por dever do ofício, acompanha alguma prosa vinda do bolsonarismo. Ao entrevistar o vice-presidente Hamilton Mourão, na mesma GloboNews, Miriam Leitão teve que ouvir o seguinte: “Heróis matam”, ao se referir a Carlos Brilhante Ustra, o primeiro militar brasileiro condenado por tortura. O que talvez poucos saibam é que a então jovem Miriam Leitão foi torturada pela equipe de Ustra. Carlos, esse Brilhante desse nosso triste país, é a bússola moral do presidente que nos governa. E também desse vice que alguns imaginam que nos tiraria dessa barbárie.
De mãos dadas como Miram Leitão, noves fora nada de economia, está a presidente Dilma Rousseff, vítima, como muitas mulheres jovens, adolescentes à época, da monstruosidade que foi o regime defendido por Jair Bolsonaro e nossas forças militares. Aspecto este subexplorado em 2018 por nossa grande imprensa que privou os eleitores de saber um pouquinho melhor do que foi Carlos Brilhante Ustra, seu legado de desumanidade e o que duas mulheres, tão politicamente distantes, têm em comum: um passado de cicatrizes abertas. Incicatrizáveis.
Portal Novos Tempos – Fonte: Carta Capital