Chico Buarque recebe Prêmio Camões das mãos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva

 Chico Buarque recebe Prêmio Camões das mãos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva

Por Regina Zappa, jornalista, no 247

“Recebo este prêmio menos como uma honraria pessoal, e mais como um desagravo a tantos autores e artistas brasileiros humilhados e ofendidos nesses últimos anos de estupidez e obscurantismo.” Com essas palavras, o cantor, compositor e escritor Chico Buarque recebeu hoje, em cerimônia no Palácio de Queluz, em Sintra, Portugal, o Prêmio Camões das mãos dos presidentes Lula, do Brasil, e Marcelo Rebelo de Sousa, de Portugal. Chico recebeu o prêmio, o mais importante da literatura de língua portuguesa, depois de quatro anos de espera. O anúncio do Prêmio foi feito no dia 21 de maio de 2019, na sede da Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro.

Na época, o então presidente Bolsonaro se recusou a assinar o diploma e Chico se considerou um escritor com dupla sorte: recebeu o Prêmio e não teve o diploma assinado por Bolsonaro. “A não assinatura do Bolsonaro no diploma é para mim um segundo prêmio Camões”, disse ele. Por essa razão e por causa da pandemia, Chico recebeu o Prêmio, quatro anos depois, vestindo um elegante terno escuro e uma gravata branca que, segundo disse com sua fina ironia, foi comprada pela mulher Carol Proner em uma loja de Lisboa, fazendo uma brincadeira com a gravata de Lula, comprada por Janja, que tanta “perplexidade” causou.

Emocionado, Chico homenageou Sérgio Buarque de Hollanda, ao relembrar a veia literária e os ensinamentos recebidos do pai. “Posso imaginar meu pai coruja ao me ver hoje aqui, se bem que, caso fosse possível nos encontrarmos neste salão, eu estaria na assistência e ele cá no meu posto, a receber o Prêmio Camões com muito mais propriedade.”

Chico Buarque venceu os prêmios Jabuti de melhor livro do ano por “Leite Derramado” e por “Budapeste”. Na categoria romance, ele também foi premiado por sua obra “Estorvo”. No caso do Prêmio Camões, a escolha é pelo conjunto da obra.

Chico Buarque estreou como escritor de ficção em 1974, com a novela Fazenda Modelo. Em 1979, publicou o livro infantil Chapeuzinho Amarelo. Seu primeiro romance, Estorvo, foi lançado em 1991. Quatro anos depois, publicou o segundo, Benjamin. Em 2003, lançou Budapeste; em 2009, Leite Derramado e em 2014, Irmão Alemão. Escreveu as peças de teatro Roda Viva (1968); Calabar (1972, juntamente com Ruy Guerra); Gota D’Água (1974, com Paulo Pontes), e Ópera do Malandro (1978).

O prêmio Camões foi criado em 1988 com o objetivo de consagrar um autor de língua portuguesa que, pelo conjunto de sua obra, que tenha contribuído para o enriquecimento do patrimônio literário e cultural do idioma”, segundo o Ministério da Cultura (Minc).

Na véspera das comemorações da Revolução dos Cravos em Portugal, Chico assegurou que “valeu a pena esperar por esta cerimônia, marcada não por acaso para a véspera do dia em os portugueses descem a Avenida da Liberdade a festejar a Revolução dos Cravos”.

adauto Ferreira

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